terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Geração "Bué da Fixe"

Portugal está já a viver a Nova Era, chegou o Homo sapiens corruptus, espécie humana mais evoluída na arte de bem vigarizar que a sua antecessora. Alimenta-se da confusão generalizada e dos recursos dos seus antepassados, na ponta da língua sempre as expressões mais que conhecidas: "meu" "ya" "yo" “Bué” e “Bué da Fixe”.

A crescente estandardização de comportamentos medíocres: uniformização das preferências por tudo o que não é nacional; contra-valores que surgem como verdades supremas, logo inquestionáveis; posturas ordinárias, amestradas aos cidadãos através de uma irradiação cerrada, propagandeada pelos órgãos de (des)informação, que o actual sistema político vigente em Portugal favorece, conduz as pessoas ao desespero e o Estado que as suporta à mais humilhante das derrotas. 
Adoptam, estes amigos do “bué da fixe”, rituais de vida que nada têm a ver com a salutar cultura tradicional portuguesa e com a identidade honrada, destemida e aventureira que glorificou os nossos antepassados. Olhamos tristemente para os nossos jovens e verificamos a sua forma de vestir cada vez mais abandalhada, a alimentação cada vez mais desregrada e americanizada, a forma de diversão adoptada cada vez mais nociva à saúde. Desenraizados e extirpados de valores estes jovens tornam-se apenas massa mole pronta a moldar para servir interesses, que não os do seu país, mas sim os dos grandes senhores do capital internacional e daqueles que pensam que através da degradação acentuada da sociedade alcançarão um dia o poder.

É uma constante inculcação de contra-valores, sugestão forçada, impondo doutrinas ideológicas de cariz marxista e mesmo até, as da sua ramificação mais destrutiva: o anarquismo. A toda a hora são ofuscados os sentidos dos menos esclarecidos através dos insuportáveis imparciais órgãos de comunicação social: sejam eles a televisão, a rádio, a imprensa escrita, o cinema, etc. Têm sem dúvida estas forças políticas da obscuridade produzido os seus criminosos resultados. Sem dúvida que o povo no seu geral, apesar de mais anos de penoso e dispendioso queimar de pestanas nas escolas publicas se tornou progressivamente menos preparado para enfrentar a vida e como consequência, incapaz de sustentar e manter uma família unida e feliz.

Tem existido nas últimas décadas em Portugal uma forte propaganda com vista a espalhar pensamentos ditos progressistas mas que apenas têm resultado no progresso da degradação individual e colectiva e no progresso do totalitário pensamento único. Os portugueses, esses estão cada vez mais encurralados a uma vida económica e social difícil e perigosa e a uma competição tremendamente desleal com a mão-de-obra barata proveniente dos países mais atrasados quer a nível cultural quer a nível económico. Mas, sempre alegres vão cuspindo os seus: “bué da fixe”. Os papagaios do novo jet-set nacional, príncipes da desgraça com uma mentalidade a condizer, assemelham-se a camaleões camuflando astutamente as suas tenebrosas manobras visando o desintegrar total da Nação.

A doutrina do politicamente correcto e do pensamento único, limita e tenciona mesmo neutralizar todos aqueles que não se identificam com o miserável estado caótico do país, que nitidamente está à beira do abismo. A cultura de massas estapafúrdia, o apelo constante ao consumo de bens supérfluos, muitas vezes só acessíveis à custa de grandes sacrifícios e da contracção de novos empréstimos bancários, lança as pessoas numa agonia suicida sufocadas que estão pelos pesados endividamentos. A cantilena que agora convém ladra assim:

O que faz falta é endividar a malta é o que faz falta…
O que faz falta é endividar a malta é o que faz falta…

Esta cultura é impulsionada pelos media através da sua poderosíssima máquina publicitária, monstruoso órgão de propaganda política. O consumo a crédito, usando as “facilidades” bancárias permitidas pelo sistema, insere-se numa lógica de viver intensamente um dia-a-dia imediatista, e de usufruir do espaço na sua plenitude, porque o amanhã (ao contrário do que acontecia na sociedade de há 30 anos) está salvaguardado pelo “Estado Providência”. O Estado Providência é a designação para os Estados que organizados nos moldes liberais-parlamentares ou democráticos, intervêm activamente no controlo da actividade económica e no domínio social, nomeadamente pela instituição da chamada Segurança Social. 

Que país é este que vive na base do comércio assente em produtos que não fabrica, comprados com o dinheiro que não tem e vendidos a quem deles não precisa?
Assim se percebe o porquê do aumento do PIB em determinados países, pois, produzem, exportam e impingem produtos dos quais ninguém precisa. A Maria e o Manuel que se deleitam com novelas e futebol, irreverentes e obviamente irrepreensíveis portugueses da geração de Abril, têm um perfeito perfil para aqueles que têm bem agarradas as rédeas do mundo que comandam, e que os seus interesses defendem com unhas e dentes, porém, habilmente camuflados pelo politicamente correcto.

Tudo isto só é possível devido a uma cultura de evasão, com conforto ilusório no consumo, que o cidadão adoptou para fugir a um quotidiano monótono, sem horizontes de esperança, frequentemente de pobreza de ordem económica e/ou espiritual, mergulhado em profunda infelicidade, oferta de um Estado sem desígnios que vagueia sem qualquer rumo.
Todos os factores de desenraização cultural produzem nos indivíduos como consequência directa a sua vitimação através de várias maleitas como o desemprego, a droga, o insucesso escolar, a miséria generalizada, a pobreza, a degradação da sua saúde quer física quer mental. Onde claramente sai prejudicada e ferida de morte a família portuguesa em cujo actual sistema não encontra bases para a sua fertilidade e continuidade natural. Só a miséria acompanha a liberdade dos seres isolados pelo individualismo, este é o preço da alienação.

A continuarmos com a propaganda de destabilização que desorienta os indivíduos e as suas famílias, inevitavelmente os pobres se tornarão cada vez mais pobres roçando a miséria e os ricos cada vez mais ricos ambicionando o poder totalitário.

É este o país que queremos para os nossos filhos? 

Da Corrupção à Anarquia

A comunidade tem sofrido ao longo das últimas décadas os assaltos do egoísmo sem fronteiras. O rosto mascarado deste corpo monstruoso, àvido de poder, é o internacional-socialismo marcado pela economia capitalista e pela cultura marxista. Reina a ausência de designios nacionais, a luta actualmente travada reduz-se à oposição dos interesses individuais sempre com prejuizo para o proveito da colectividade afectando profundamente o bem-estar geral. O bem comum é totalmente desprezado. Da boca do povo ouvem-se agora expressões como, está tudo a saque. 

A actualidade afogada no individualismo, cujas fontes principais são o egoísmo pilar do socialismo e a inveja pilar do comunismo não deixa espaço para a vida familiar comprometendo-se gravemente a educação eficaz dos nossos filhos. Inculca-se o modernismo à força através das potentes campanhas propagandisticas, que agora se chama publicidade. Dissemina-se o ateísmo como plataforma segura para a instalação do ferrenho e reprovável antimoralismo. Ao capitalismo inumano e dissolvente dos nossos dias cujo único objectivo é a busca desenfreada do lucro junta-se a ganância dos menos preparados a nível moral e intelectual que, sob a batuta das forças que comandam a mediocridade, exigem sempre mais e mais consumo, mais e mais oportunidades para delapidar recursos. Desde há muito que se sabe que a felicidade não está no consumo desenfreado e superfluo, está sim na oportunidade de cada um cumprir com rectidão o seu dever. É feliz quem cumpre o seu dever. É feliz aquele que tem direito ao trabalho e direito à constituição de uma familia harmoniosa. É feliz aquele que sente confiança nos seus governantes e se sente por isso mesmo bem governado e protegido. 

Recusamos pois a entrega a um negativismo conformista que nos impõe a sociedade absurda actual como única forma possivel de vida em comunidade. Não acreditamos no determinismo que nos impõe formas estáticas e amarra o espírito ao ócio, à improdutividade e à não-creatividade. Somos positivistas no sentido de que dotados de esperaça estamos profundamente convictos de que uma sociedade melhor, com base no dinamismo, está perfeitamente ao nosso alcance. A degradação é visivel por toda a parte, há a sensação geral de que nada funciona correctamente, há uma consciência crescente de que é preciso mudança. A insegurança e a desconfiança provocam a destruição de todas as solidariedades profundas e arruínam a própria noção de povo. 

No ambiente de desordem geral presta-se culto à vontade individual mais descabida, triunfam os oportunistas, os vigaristas encontram terreno fértil para a legitimidade das irregularidades, a justiça não se faz sentir. Neste salve-se quem puder, há quem enriqueça de forma rápida e quem seja lançado no lamaçal da miséria num segundo. A corrupção chegou e venceu, ninguém se lhe opõe, parece até que é algo que interessa a todos, pois, o silêncio é cúmplice. Mas um mal nunca vem só e, da corrupção a que os mais conformados já encaravam com normalidade, associando-a à inevitabilidade do sistema, nasce a anarquia que quebra todas as normas sociais e abre caminho ao orgulho na decadência. Todos fazem o que querem, ninguém cumpre, ninguém se interessa com o próximo, abandonam-se os idosos, promovem-se abortos aos milhares, incentiva-se à emancipação feminina aumentando para numeros astronómicos os indicies de divórcios. Fecham-se escolas, hospitais, maternidades, cada um faz o que quer, em prol do seu “Eu”, é assim que mandam as regras anarquistas. Vandalizam-se os comboios para que se tenha uma marca pessoal ostentada ao mundo inteiro. A tirania individual oprime assim milhares de pessoas, violando impunemente as suas mentes, entregando as populações desprotegidas ao desespero, à insegurança, à profunda depressão. O respeito, a educação, a moral, a caridade, isso é para os retrógados conservadores que a modernidade já não tolera. Apregoa-se agora esta irracionalidade por todos os póros de um sistema cuja desautoridade passou a paradigma. 

A esperança é uma virtude de que não prescindimos, ensina-nos Maquiavel que “a coragem engendra a satisfação, a satisfação o ócio, o ócio a desordem, a desordem a decadência. De igual modo, é da decadência que nasce a ordem, da ordem a coragem, desta a glória e a felicidade”. Aguardemos que o processo de inversão, de um ciclo atrozmente negativo, se inicie pondo fim ao tempo das pestilentas vacas magras e luza o rumo à bonança, à criatividade, à ordem e à paz de espírito.

Necessidades dos Portugueses

1. Nunca acordaram de manhã a pensar, bem “bom era viver num pais civilizado!”. Eu já. Mas depois lavo a cara com água e lembro-me que estou em Portugal. Porque raio, os lusitanos se submetem às políticas portuguesas que só os destruíram? Reparem no interior completamente de rastos, ao abandono. Reparem no resto do País completamente do avesso? Este é o sinal que nos incentiva a agir e a procurar outras soluções políticas. Soluções mais viradas para as necessidades humanas da nossa sociedade. Passo a citá-las:

1.1. Emprego

1.2. Habitação

1.3. Condições de Vida

1.4. Igualdade de Oportunidades

1.5. Saúde

1.6. Futuro


2. O nosso governo o actual, está preocupado com o défice e a dívida pública.

E eu digo, fomos nós patriotas que a fizemos?

Não foram eles que endividaram o País com políticas erradas?

Entao porque raio temos de ser nós a pagar essa dívida através do aumento de impostos e da baixa de salários?

Porque nos continuamos a submeter a governos incompetentes e ao capitalismo ganancioso? São eles que precisão de nós, não é?

Das duas uma, ou os portugueses são estúpidos ou são cobardes, porque o dever de um português e lusitano é lutar contra estas instituições, como fizeram os nossos antepassados frente aos romanos. Não tenham dúvidas que os ideais capitalistas e os da actual direita, centro e esquerda, são os mesmos. Usurpação e oportunismo.

Quem paga? São sempre os mesmos. Neste País, já só existem os Ricos (muito ricos) e os Pobres (Classe Média e Baixa), que continuarão a pagar os desmandos de governos chamados democráticos, que de democracia mada têm.

3. Não confundam Nação com Estado. Este Estado e este Governo por mim era para ir abaixo. A Nação é linda demais para estar nas mãos desta gente a destrói. Os Patriotas estão desorganizados. É preciso organização e união a nível nacional. Ou isso, ou a humilhação de não termos feito nada, quando o devíamos ter feito!

A ORGANIZAÇÂO È O ACTO FUNDAMENTAL DE QUALQUER LUTA!

- Falar Verdade não é um partido politico. Defende os direitos humanos e a Constituição Portuguesa (apesar de necessitar de muitas alterações], ou seja é um blog que se destina a organizar os Patriotas deste nosso Portugal. Partidos? Há muitos em Portugal e e não há um único que se preocupe com os Portugueses. Preocupam-se sim, com os votos que podem adquirir ou em arranjarem lugar para os seus boys.

Ainda não vi nenhum partido político actual a defender condições humanas, o emprego como a necessidade básica de um ser humano. Ora, um governo que deixa fechar centenas de fábrica e empresas, que deixa que se enviem milhares para o desemprego, onde, da parte do governo ou da oposição se viu alguém a opor-se a isto?

- O Blog Falar Verdade quer a União do País, Ricos, Pobres, de Esquerda e de Direita. A União deve ser total. O Objectivo criar um País Forte, com uma Economia Forte, uma Patria Forte;

- O Blog Falar Verdade, defende o Patriotismo e a lealdade, um País de Igualdade e Fraternidade, um País com um único objectivo: Sermos melhores e sermos respeitados lá fora, no Mundo inteiro, e acima de tudo defendermos os nossos valores.
A ESTRUTURA DE UM ESTADO

  1. O sistema politico tem de ser descentralizado e totalmente livre onde cada um contribui de facto para a politica localmente.
  2. O sistema económico deve ser livre mas nao ao ponto de permitir corrupção e transferências ilícitas de dinheiro, mas defendendo a justiça salarial, a liberdade criativa e o bem comum e claro, o progresso.
  3. A Estrutura economica deve ser organizada com centros de habitação, comércio e industria, a fim de termos um mercado interno forte e saudável.
  4. Cada habitante tem direito a emprego, ao progresso e à liberdade.
  5. Os salários sao pagos à semana e cada ordenado deve ser o suficiente para o cidadão ser auto-sustentável.
  6. A criação de centros de investigaçao científica e tecnologica, para tornarmos a nossa indústria mais forte e mais competitiva.
  7. A criação de quatro indústrias principais: industria automovel, aeronautica, maritima e militar.
  8. e muitas mais medidas são possíveis. Agora, há que nos atirarmos para a frente e conquistarmos aquilo que nos pertence, que é viver num Estado em que vale a pena lutar por ele.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Táctica e Doutrina

Só quem for, por completo, desprovido de lucidez e patriotismo, ou estiver em pleno retrocesso mental, poderá negar, de boa fé, que, no nosso país, reina a maior e a mais franca das desorientações intelectuais.

Sendo facto notório que é esse o estado geral dos espíritos não precisamos de apresentar provas escritas e formais da nossa asserção. Basta-nos dar-lhe relevo e destaque, indicando uns tantos aspectos salientes do panorama de conjunto.

Debrucemo-nos, por exemplo, sobre as páginas literárias dos principais quotidianos portugueses. Apesar da louvável existência da censura, o tom nelas dominante é de um acentuado esquerdismo e, por vezes até, de um acentuado filo-comunismo. Unicamente em jornais considerados já de um tremendo extremismo direitista se manifesta uma preocupação de prudente ecletismo.

Claro que, em consequência, são raros os que, entre nós, conhecem o nome dos romancistas espanhóis Sanchez Mazas ou Rafael Garcia Serrano, dos franceses Saint-Paulien, Michel Déon, Jean Brune, Antoine Blondin, Jacques Laurent, François Brigneau, Roger Nimier, Saint-Loup, dos alemães Hans Grimm e Kolbenheyer e tantos outros. As suas novelas, os seus ensaios, as suas críticas, as suas obras polémicas (algumas admiráveis como o "Mauriac sous De Gaulle", de Laurent ou o "Interdit aux chiens et aux Français", de Brune) são sepultados debaixo do silêncio espesso, ao passo que se erguem até ao céu as nuvens de incenso e as loas a quantos literatozinhos progressistas e anti-fascistas existem neste mundo. Tudo se conjuga para que a opinião pública fique a imaginar que, nas nações civilizadas, não há senão escritores que condenam os regimes não democráticos, que a inteligência é, por definição, demo-liberal ou bolchevizante e que, se não desejamos exterminar a cultura, se impõe uma mudança de instituições.

Passemos, agora, ao plano editorial, aos originais e às traduções que se publicam em abundância. O quadro é, também, francamente desolador. Não vamos deter-nos em pormenores. Apenas desejamos traçar um pequeno apontamento. No próprio dia em que lemos, em periódico francês, uma entrevista do endeusado plumitivo Sr. Cardoso Pires, dando a entender que, sobre o livro, em Portugal, pendia a ameaça de uma nova Inquisição, deparamos, na montra de uma livraria, santa e tranquilamente irmanadas, as versões, na nossa língua, da "Lógica Dialéctica" do marxista romeno Joja, do "Realismo e Existencialismo" do marxista húngaro Lukacs e de "Para um Realismo sem Fronteiras" do marxista gaulês Garaudy. Edições baratas, de divulgação, expostas e à venda, com inteira impunidade, numa terra onde o anti-comunismo é tão oficialmente adoptado que os funcionários públicos têm que declarar, por escrito, por sua honra (muitos fazem-no de sorriso nos lábios), que professam activo repúdio do comunismo e demais doutrinas subversivas.

E voltemo-nos, por último, para as novas gerações, em especial para a elite das novas gerações, a mocidade das universidades e das escolas superiores. Que vemos nós aí? Ou um grande vazio e uma grande indiferença por tudo o que não for o futebol e a música yé-yé ou, então, uma crença agressiva em pobres ideologias ultrapassadas e ultra-refutadas e só postas a reflutuar devido ao triunfo pelas armas, em 1945, da coligação democrático-bolchevique (nem reparam nisso os portentosos jovens que bradam contra a violência, nem reparam que, unicamente, graças a uma vitória guerreira, obtida sem olhar a meios, é que os seus queridos ideais não estão depositados em museu de ressequidas velharias). Em muitos permanecem vivas as recordações dos incidentes académicos de há meia dúzia de anos, tentativas de desordem e subversão em que, aliás, participaram ou colaboraram rapazes e raparigas das chamadas óptimas famílias, ligadas directa ou indirectamente a personalidades de relevo da Situação. A chama da agitação política crepita, ainda, numa minoria apreciável, capaz por momentos de arrastar a massa quando, auxiliada por conjunturas favoráveis, a consegue sacudir das nobres actividades de descompor árbitros nos estádios ou de sacudir as guedelhas ao som dos ritmos trepidantes nas boites.

Perante este desolador estado de coisas uma interrogação aflora imediatamente. Mas porquê isto? Qual a causa de um tão lastimável ambiente? Como chegamos até extremos de tanta gravidade?

A resposta não oferece grandes dificuldades. Porque nos debatemos nesta atmosfera empestada e confusionista? Muito simplesmente porque desapareceu a Fé, a fé actuante numa Ideia, numa Doutrina inequívoca, explícita, sã, radicalmente oposta, inquebrantavelmente oposta, às mitologias hoje dominantes. Semelhante doutrina, observarão os timoratos, era a dos vencidos? E que importa isso! Não deixava, por tal motivo, de ser verdadeira (porque a verdade não depende dos triunfos pela força), nem de ser, igualmente — o que é mais importante —, a única possível, se não quisermos deixar ao inimigo o domínio dos intelectos.

É óbvio, no entanto, que os neutros, os adversários, os curiosos, inquirem, esgrimem, insistem, marcando, apesar das sábias precauções, as afinidades com os sistemas malditos e formulando, ao fim e ao cabo, as acusações a que se procurava fugir a todo o custo. E, então, para se lhes escapar, para provar que os acusadores estão equivocados e não têm razão, fazem-se as primeiras concessões no terreno doutrinário. A táctica assim obriga.

Nesta altura, os ortodoxos esboçam os seus primeiros protestos, apontando o fracasso dos entusiastas da táctica que nem se furtam às acusações que os perturbam, nem deixam de transigir quanto aos princípios. Para não dar o braço a torcer, não arrepiar caminho, não confessar as suas faltas, os tacticistas ripostam, imediatamente, que se não tiveram êxito foi porque as concessões feitas eram insuficientes e o que se torna necessário é situar-se para além dos antagonistas, excedê-los. Inicia-se, por conseguinte, a descida, em rapidez, do plano inclinado.

Passa-se a utilizar, com descaro, a linguagem e as ideias do inimigo até ao ponto de nem se perceber porque é que o inimigo é inimigo. Este, conforme é evidente, cada vez mais se fortifica nas suas convicções e aumenta o número dos seus apaniguados, pois que o apoiam, gratuitamente, na sua propaganda. E são, afinal, exclusivamente, as hostes dos entusiastas da táctica que dão indícios de franca decomposição. Por fim chega-se, no domínio ideológico, até onde chegamos. Toda a gente (salvo as excepções da praxe) quer a democracia (orgânica ou inorgânica), grita o seu respeito pela eminente dignidade do homem, valsa ao som dos direitos do cidadão, desmaia perante o ideal de liberdade. Nem falta quem ao ler a frase do ilustre filósofo católico, o dominicano (dominicano, note-se bem) Louis Lachance: «a pessoa humana está subordinada ao Estado» (1), julgue ter encontrado a maior das heresias, persignando-se logo três vezes a seguir.

O primado da táctica, do intuito de conquistar adeptos seja como for, produziu o maior dos abaixamentos intelectuais. Olvidou-se, lastimavelmente, que os adeptos têm de ser adeptos de qualquer coisa de bem definido, que a táctica só se concebe ao serviço de uma doutrina intangível. Os meios são sempre meios em relação a um fim. Se se pretender arvorar os meios, enquanto tais, à categoria de fim, o que acontece é que perdem a razão de ser e desaparecem até na simples qualidade de meios. A táctica pela táctica é o próprio auto-aniquilamento.

Imaginarão os nossos teorizadores, jornalistas e influentes, da capital e da província, que o globo tem os olhos postos neles e que a posição internacional portuguesa periga se, de Lisboa a Freixo de Espada-à-Cinta, não se repetirem e difundirem (corrompendo as mentalidades) os lugares comuns das ideologias que imperam no nosso triste tempo? Bem estranho fenómeno de megalomania colectiva seria esse.

De qualquer modo, eis-nos no quadragéssimo primeiro ano da Revolução Nacional, em trágica encruzilhada, gerada por visível e patente anarquia intelectual. Para lhe pôr cobro, se porventura estivermos a tempo, não há senão um remédio: o abandono das habilidades tácticas e dos disfarces, a favor da mais firme, da mais veemente das intransigências doutrinárias. Este caminho, que é o do aprumo e da honra, será o caminho salvador, se acaso houver ainda possibilidades se salvação.

Doutrinação Politica

O Homem é, por essência, político — só pode ser considerado efectivamente como ser humano pela sua integração na sociedade. Mas viver em sociedade implica também uma vontade colectiva e um esforço pessoal de cada membro do agregado social.

O Estado é a forma mais perfeita de comunidade organizada a cuja institucionalização chegaram os homens. O Estado, único detentor da soberania, é um instrumento totalitário ao serviço dos fins da Nação e como tal deve subordinar os interesses particulares e individuais ao interesse nacional, respeitando os imperativos históricos da Pátria.

A preparação das novas gerações para continuar a tarefa colectiva que a Nação exige, é uma das finalidades mais importantes de um Estado ético, possuidor de uma determinada orientação política concretizada numa ideologia.

Os jovens são cidadãos que ainda não participam plenamente na vida política e administrativa da Nação nem na feitura das suas leis. O dever imprescindível de um Estado ético será de ministrar uma educação que coloque os jovens em condições de assumir a direcção da vida nacional quando chegar a hora de render a guarda.

Até que ponto se pode afirmar que os jovens portugueses foram educados politicamente e preparados para assegurar a continuidade da Revolução Nacional? Existe realmente uma consciência política da juventude orientada no sentido de preservar as conquistas do Estado Novo e alcançar a plena realização de todos os objectivos revolucionários do Movimento?

É preciso criar nas novas gerações, desde a infância, a consciência clara da necessidade e do dever de contribuir para a realização ascendente e total da obra revolucionária iniciada pelo Estado Novo, cuja continuidade depende essencialmente do entusiasmo, da fé, do esforço da juventude.

Inculcar no espírito dos futuros dirigentes do país uma vocação política e social, fomentando o seu interesse pelos grandes problemas da Lusitanidade e o seu orgulho nacionalista, será, sem dúvida, o meio de alcançar o Império, limpo da corrupção e dos interesses alheios, que sonhamos ardentemente.

Pensar que a juventude deve ser educada de modo a adquirir uma maior sensibilidade artística ou uma melhor preparação para o exercício das suas faculdades físicas e intelectuais, mas deve permanecer céptica relativamente às necessidades de desenvolvimento e aperfeiçoamento da ordem política vigente, a que está subordinada e que condiciona naturalmente todas as actividades sociais, é uma criminosa inconsequência. É obrigação do Estado interessar a juventude pelas realidades institucionais, sociais, económicas e culturais que constituem o essencial da política portuguesa. E interessá-la através de uma informação objectiva, mas baseada nos princípios imutáveis do Movimento, que permita propostas generosas e revolucionárias para realizar as necessárias correcções da ordem política, levando até às suas últimas consequências a Revolução Nacional.

Mas também é indispensável assinalar o rumo à juventude em exemplos humanos de comportamento moral e cívico que possam dar confiança e esperança aos jovens, na certeza de que os esforços e os sacrifícios que terão de enfrentar valem a pena.

A coerência política e a fidelidade aos princípios consagrados constituem o melhor exemplo que se possa dar à juventude — o exemplo da autenticidade.

Alternativa Nacional à Decadência Democrática

Em Abril de 74 viu a luz do dia um nado-vivo baptizado Democracia. Sobreviveu de início à custa de prolongado tratamento hospitalar – ouro e posição forte da moeda, herdados do Estado Novo – que, infelizmente, lhe prolongou a vida. Com a exaustão daqueles poderosos meios de ressuscitação, salvou-se da morte útil aquele aborto incapaz de vida própria pela injecção atempada e continuada dos últimos fármacos saídos dos laboratórios de Bruxelas e Estrasburgo – os fundos da CEE/UE.

Acontece que todo o esforço aplicado na salvação do monstro de Abril não resultou como os pais e padrinhos esperavam. A necrose tecidular e a putrefacção celular da Democracia lenta mas inexorável, tem trazido todos os pais, – os verdadeiros e os adoptivos –, mais os padrinhos, e os inúmeros apadrinhados, verdadeiramente preocupados. Já não é possível dizerem que tudo vai bem, que a tal criatura vive como Alice no País das Maravilhas. É que o cheiro que exala é nauseabundo. Já recorreram a todos os renomados fabricantes de elaboradas fragrâncias e exóticos perfumes, mas o investimento não tem resultado.

O povo já anda de nariz no ar…

Eles bem disfarçam com o eclipse, mas o odor fétido alastra.

A maioria dos órgãos da ‘expulsão abortiva de Abril’ estão em degenerescência acelerada. Veja-se o que se passa com os autarcas e os recuados, os deputados e as viagens, os ministros e as JAEs, as melancias macaenses e as amizades salvadoras, os presidentes e as excursões faraónicas, os partidos e os boys, etc., etc. O Estado é a teta da vaca onde mama toda esta vaga de oportunistas e materialistas, laicos ou não. «…Se a Democracia, sociedade em que todos governam, não existe, que é que existe com o nome de Democracia? Existe a sociedade em que alguns se governam – mentindo, iludindo, sofismando, arrastando o povo atrás da sua mentira, levando-o, cego e surdo, atrás de uma ilusão! (…) Mas essas Democracias que por aí passeiam a sua vida, que são afinal? São burlas escandalosas e é à sua qualidade de burlas que devem o poder viver.
São sociedades de negócios, materialistas e jogadoras da vermelhinha – em que, repito, alguns se governam…» (1)

A própria Igreja, não constituindo evidentemente nenhum órgão do corpo da dita Democracia, está contaminada por ela. As relações de proximidade facilitam as infecções cruzadas se, para além dos cuidados de assepsia, o sistema imunitário – fortes convicções éticas, morais e religiosas – não for suficientemente resistente. Veja-se o que se passa com o padre ‘Malícias’, confessor de primeiros-ministros e candidatos a tal, comissário de tudo quanto é assunto de negros ou outros aborígenes igualmente escuros; igualmente de referir neste jet-set democrático-maçónico é o também mediático frei Domingues. Com o renegado Mário da Lixa (ou do lixo?) formam os três vértices do triângulo representativo da dita cuja… Lá dentro, está o olho que tudo vê…

O povo está apático e abúlico, sintomas de que a anestesia actuou.

É preciso que as elites se façam ouvir, que saiam das catacumbas onde se encontram recolhidas há 25 anos. É tempo de terminar a retirada estratégica e tomar a ofensiva. O inimigo está em auto-decomposição.

Agora que as florestas, antes verdes e viçosas, estão secas, carcomidas e irremediavelmente perdidas, é necessário apenas acender o fósforo que ateará a fogueira purificadora e renovadora, que permitirá eliminar de uma vez por todas os germes da destruição, fazendo brotar em seu lugar uma nova flora, verde como antes.

Há alturas em que as queimadas são a melhor e a única solução.

É forçoso que nasça um movimento regenerador que mobilize a «maioria contrariada», todos os potenciais não-democratas que estão localizados na elevada percentagem de abstencionistas.

A abstenção é uma atitude patriótica de quem não legitima palhaçadas com romarias orquestradas às urnas, esses locais lúgubres onde são despejados os papéis sujos de símbolos anti-nacionais representando organizações e pessoas responsáveis por sofrimentos sem conta e mortos sem fim. Como não há funeral sem urna, quem lá vai participa com certeza no enterro de alguém… Admito perfeitamente que a maioria dos que lá vão não suspeitam sequer que a festa «cívica» domingueira em que julgam participar se trata do enterro da Pátria. «As massas não raciocinam: crêem. E quanto mais compactas e mais numerosas são, mais obtusa, irreflectida e infantil é a sua crença.

Não há almas colectivas, não há razões colectivas, não há inteligências colectivas. As massas têm instintos, não têm Razão; têm reflexos, não têm discernimento. Porque as seduz a democracia? Porque as encanta o comunismo? Precisamente, porque são bárbaros e absurdos». (1)

Cada acto eleitoral democrático representa uma pazada no cavar da sepultura da Nação; de uma nação que ainda há 25 anos caminhava pujante de vitalidade, orgulhosa do passado e confiante no futuro (embora com Marcelo Caetano se começassem a avistar nuvens escuras no horizonte). Agora, amputada dos seus membros, resta-lhe a cabeça e um tronco doentes. A cabeça sã, a massa encefálica saudável, somos nós, a elite nacional. A cabeça que nos "tem dirigido" nestas duas décadas e meia e que levou à insensibilidade, parestesia e gangrena progressiva das extremidades, foi fortemente afectada por um volumosa massa democrática de aspecto histológico inconfundível: um tumor maligno, que cresceu desmesuradamente dentro da caixa craniana e que é preciso remover quanto antes (primeira medida terapêutica).

Como segunda medida, é fundamental evitar que o que resta do corpo amputado se esvaia em sangue. E continuamos a ser nós que temos de fazer os torniquetes, aplicar os hemostáticos e assegurar a cicatrização.

* * *

O movimento regenerador que poderá conquistar o poder através do acto fúnebre-eleitoral, ou não, terá de apresentar um programa inicial unificador de forma a evitar a divisão precoce no nosso eleitorado-alvo. Como aconselham as regras básicas da propaganda política, esta deve assentar na apresentação clara e repetida de uma dúzia de princípios fundamentais do nosso projecto político, em ruptura total com o sistema e facilmente apreensíveis pelo povo.

A diferença deverá começar logo pelo estilo, pelo exemplo que terá de vir de cima. Exigir-se-á como conduta para todos os quadros um espírito de Cruzada, no que esta definição representa de escola de virtudes: disciplina, espírito de sacrifício, desprezo pelo risco, abnegação e renúncia ao comodismo e materialismo burgueses.

Propostas mínimas:

a) Estado Nacionalista com predominante pendor social. Portugal é uma realidade histórica – uma nação, uma língua, uma raça e um território – com uma unidade de destino. Um Estado de todos e para todos sem submissões a partidos ou grupos de pressão. Responsável perante o indivíduo pela autoridade, pela hierarquia e pela ordem;

b) Criação de um Banco do Povo como factor importante de uma política económica anti-especulativa (abolição da servidão do interesse), de apoio e promoção da habitação própria e da criação de empresas modelares fruto da iniciativa individual;

c) Recusa de uma interpretação materialista da história; a vida não se resume a um mero jogo de factores económicos. O trabalho desempenha uma função social de realização pessoal e de criação de riqueza. Impedir a sujeição do trabalho à tirania desenfreada do lucro. A riqueza de uma nação não é fruto do capital (financeiro e/ou especulador) mas sim do trabalho produtivo do homem individualmente realizado e socialmente integrado na família, harmoniosa célula da sociedade; o trabalho é o melhor título de dignidade civil. Nada pode merecer mais atenção do Estado que a dignidade e o bem-estar dos trabalhadores; fomento da elevação cultural e espiritual das massas;

d) Capacidade de emissão de moeda pelo Banco de Portugal quando for do interesse nacional, sem servidões a interesses económicos ou políticos exógenos. Renegociação do acordo global com a União Europeia. Economia orientada;

e) Revisão da nossa posição (filiação) na NATO em função das profundas alterações geopolíticas mundiais: o desaparecimento da URSS e do Pacto de Varsóvia deixaria a NATO sem razão de existir não fosse a sua reconversão em ponta de lança do mundial-imperialismo norte-americano (judaico na essência) como constatámos na gratuita agressão à Jugoslávia – a "Saga USAka" dos "Libertadores USAs" (2) – e na revisão dos fundamentos do Tratado da organização que outrora fora defensiva, aquando das comemorações do seu cinquentenário. O mundo unipolar tornou-se assim incomparavelmente mais perigoso para a soberania dos povos que a anterior bipolarização mundial;

f) Luta contra o desemprego (consequência da lógica de mercado): incentivar e apoiar o apego à terra e a uma agricultura moderna. Inverter a lógica concentracionista e desenraizadora do capitalismo liberal, promovendo o retorno da cidade para o campo; preferência no emprego, em igualdade de circunstâncias, ao cidadão nacional;

g) Repatriação imediata dos imigrantes ilegais, pondo fim ao interminável prazo de legalização; combate à imigração ilegal, fonte de enriquecimento ilícito de empregadores sem escrúpulos e como forma de evitar a escravatura e a exploração de gente desinserida do seu meio natural, situação esta geradora de marginalidade e conflito social. Incentivar o regresso aos países de origem de todos os não-europeus através de acordos de cooperação e desenvolvimento com aqueles países.

h) Restabelecimento da cidadania de sangue; preservação da identidade cultural e da homogeneidade racial;

i) Restabelecimento da pena de morte para traficantes de droga e crimes de especial violência como assassínios em série, infanticídios, violações de crianças, etc.

j) Proibição de seitas e sociedades secretas; como tal, a maçonaria seria interditada, como seria completamente impensável a realização em Portugal de qualquer reunião ou encontro de internacionais mundialistas como o grupo de Bilderberg (como o realizado este ano na Penha Longa, em Sintra) ou a Trilateral;

k) Fim da corrupção generalizada; maior energia na investigação e castigo;

l) Rejeição da dicotomia esquerda/direita ou comunismo/liberalismo. Esta é uma falsa questão. Há uma terceira via, ou terceira posição, que é a nossa.

m) Recusa do pensamento único, do politicamente correcto e da Nova Ordem Mundial com que o judaísmo/sionismo mundial pretende conquistar e amordaçar o mundo. «Ao falarmos de "pensamento único", se tal pensamento não é de direita nem de esquerda, é um estado de ânimo que impossibilita sair do discurso da ideologia dominante» (3)

n) Defesa da família e do matrimónio tradicional. Promoção da natalidade.

Antes de terminar, não queria deixar de reafirmar que estes pressupostos não constituem nenhuma base programática, mas apenas e só alguns princípios que considero intocáveis, como ponto de partida para qualquer movimento ou partido que pretenda, com êxito, partir a espinha à ditadura democrática.

O "consenso" e a "tolerância" guterristas não fazem parte do nosso léxico. A intolerância, quando defendemos a Verdade, a Razão, a Justiça e a Pátria, será determinada e violenta se necessária.

Apologia da Intolerancia

Se há ideia que, hoje em dia, receba os aplausos tanto da Direita como da Esquerda, essa é a de tolerância. A Direita entende que só pela tolerância se atinge a união, o sossego nas ruas e se evitam as perturbações revolucionárias. A Esquerda considera que o respeito de todas as opiniões é uma espécie de imperativo ético racional, indiscutível, categórico, absoluto. De qualquer modo, direitas e esquerdas aparecem amplexadas no repúdio firme dos sectarismos, dos extremismos, dos totalitarismos que perturbam as boas digestões à mesa do orçamento e desviam os homens do culto tão respeitável do bem-estar e da tranquilidade para a aventura das lutas e dos sacrifícios ilimitados por uma ideia. Direitas e esquerdas preferem, unânimes, à intransigência alicerçada no ideal, a pacatez do oportunismo e dos desejos de comodidade e liberdade.

Simplesmente acontece que os sectarismos, os totalitarismos, os extremismos também são opiniões. Se se perfilha o respeito de todas as opiniões, então há que respeitar, igualmente, a opinião sectária, extremista, totalitária, dos sectários, extremistas e totalitários. Mas qual é a opinião dos sectários, extremistas e totalitários? Precisamente a de que nem todas as opiniões devem ser respeitadas, que o respeito de todas as opiniões é absurdo e que a intolerância é que um imperativo racional absoluto.

Logo o respeito de todas as opiniões envolve o respeito da opinião de que o respeito de todas as opiniões é absurdo; pela aceitação da tolerância tem de se aceitar a intolerância. Ora respeitar a tese de que o respeito por todas as ideias é absurdo, aceitar a intolerância, é considerar legítima a negação da tolerância. Donde se segue que o ideal de tolerância implica, por força, a licitude da sua própria negação, sendo, por consequência, plenamente inaceitável. O ponto de vista da esquerda, de acordo com o qual a tolerância é imperativo ético da razão, revela-se, desta maneira, radicalmente contrário à verdade. O inverso é que está certo. A tolerância é racionalmente indefensável, opõe-se às mais elementares regras da inteligência.

E que dizer da perspectiva direitista em que a tolerância é simples instrumento de união e paz pública? Apenas o seguinte. Se são respeitadas as opiniões dos intolerantes, a intolerância ganha foros de cidade e entra em luta com a tolerância. E lá se vão a tranquilidade pública e a união. Querendo fazer predominar a tolerância em nome da ordem exterior, a Direita só tem um caminho: — banir, afastar, reprimir os intolerantes. E ei-la, a fim de promover a tolerância, a praticar uma política da mais firme, rígida e autêntica intolerância — a intolerância contra os totalitários, sectários, etc., numa palavra o extremismo do anti-extremismo.

Note-se, aliás, que a esquerda acaba, também, por adoptar semelhante linha de conduta, e compreensivelmente. Desde que não abdique da sua doutrina pelo absurdo que a vicia, apenas lhe resta tomar um caminho: — para fazer desaparecer o argumento da auto-destruição da tolerância, fazer desaparecer, definitivamente, a intolerância. E para fazer desaparecer, definitivamente, a intolerância, tenta varrer da face da terra os adeptos de semelhante ideia. Por isso, é, precisamente, nos regimes que pregam a tolerância e a elevam a dever incontrovertível, que se verificam as mais rudes, ferozes, impiedosas tentativas de extermínio do intolerante, do totalitário, do extremista, etc. Na sua raiva, tais regimes julgam eliminar a ideia que os obriga a contradizerem-se eliminando os homens que nela acreditam. É claro que não é possível conseguir que uma ideia desapareça, que uma possibilidade lógica deixe de ser possibilidade lógica. Não pensam, assim, no entanto, os cultores da tolerância e procuram matar o ilogismo da sua própria doutrina nos corpos dos adversários. Estes são proclamados inimigos da Humanidade e monteados quais lobos ou feras piores que lobos. Não têm direitos nem opiniões, representam tão-só incarnações do diabo, monstros horrendos que importa ver sumir-se, para sempre, da superfície do globo. Deste modo, e só deste modo (inexequível a priori, porque se a ideia de intolerância, enquanto ideia, é inelimitável, nunca deixará de haver quem possa vir a declarar-se em seu favor, mesmo entre os próprios entusiastas da tolerância), serão alcançadas a felicidade, a harmonia, o respeito mútuo das crenças em todo o género humano.

Recordemos o que se passou, na Revolução Francesa, com o Rei, os aristocratas, os contra-revolucionários em geral, acusados de sectários, de inimigos da tolerância e conduzidos ao patíbulo, aos milhares, exactamente pelos que bramiam em discursos, a sua fé na bondade natural da pessoa e no direito de cada um perfilhar as teorias que entendesse.

E também é esclarecedor o panorama dos nossos dias, com o fascista e o nazi acossados, perseguidos com fereza, abatidos sem perdão, porque intolerantes, extremistas (extremistas do Estado, da Pátria, da Autoridade, da Honra) por quantos apregoam a liberdade de pensamento sob qualquer forma.

A Revolução, num curto período, matou mais gente do que a Inquisição portuguesa em séculos. Vinte anos de Fascismo e doze de Nacional-Socialismo nunca na realidade (e não nas propagandas mentirosas dos vencedores) ficaram assinalados pelos horrores que acompanharam as Cruzadas das Democracias, em cinco anos: bombardeamentos com fósforo de populações civis de cidades como Hamburgo, Colónia, Dresden e tantas outras, emprego da bomba atómica em Hiroshima e Nagasaki, matança de 105.000 colaboracionistas na França e de cerca de 300.000 partidários da República Social Italiana no Norte da Itália, etc. E ainda prossegue na actualidade a montaria ao fascista e ao nazi vencidos. Um vinténio não desarmou o ódio e o rancor dos seus carrascos.

Percebe-se isto, todavia. Os entusiastas da tolerância só sossegam quando julgam que nem um só mais oponente existe e que, por essa maneira, conseguiram suprimir o paralogismo que anula a sua ideologia. Daí que estejam em permanente tensão, em perene pavor de heréticos que bem desejariam exterminar pela raiz, banir radicalmente.

Não esqueçamos que, se o uso da violência é própria dos totalitarismos e extremismos, o terror é a arma habitual dos apóstolos democráticos, libertadores de oprimidos e instauradores de paraísos de tolerância e fraternidade.

Convém esclarecer que na crítica que formulamos à tolerância não está, logicamente, implícita, de maneira nenhuma, a atitude atribuída no século XIX aos reaccionários franceses. Diriam eles: aos liberais, exigimos a tolerância, em nome dos seus princípios, e negamos-lha a eles, em nome dos nossos princípios.

Nada mais afastado dos pontos de vista aqui expostos. Entendemos, de certo, que o inimigo tem o dever, imposto pela sua doutrina, de ser tolerante com toda a gente. A intolerância com base no ideal de tolerância é hipocrisia repelente ou ilogismo reprovável. Todavia, não lhe exigimos tolerância alguma, em função dos seus próprios princípios. Não nos escandaliza nada que pratique a intolerância, mas unicamente que o faça invocando a tolerância. Deixe de fazer tal invocação que já estaremos de acordo, visto que, nessa altura, só poderá ser intolerante em nome da verdade da sua própria opinião e não do respeito que todas as opiniões merecem. E é precisamente essa a nossa posição!

Sim, porque nós, se reclamamos algo, o que reclamamos é a nossa liberdade, exclusivamente e por ela mesma, não a liberdade, em geral, para aí enquadrarmos a nossa liberdade. É a nossa liberdade, apenas, que exigimos, na medida em que temos a convicção de que estamos a servir a Verdade — e que, portanto, os adversários erram. As nossas exigências são, pois, inteiramente fundadas nos nossos princípios, nunca implicando uma chamada a princípios antagónicos.

Somos, por isso, rigorosamente, coerentemente intolerantes. A intolerância, para nós, é a expressão da destrinça entre o Bem e o Mal, entre as ideias sãs e as ideias daninhas. Nem todas as opiniões são dignas de respeito. Pelo contrário! Há opiniões que não merecem respeito, são falsas e maléficas e, por conseguinte, merecem combate (1), por quaisquer meios adequados — desde a propaganda e a censura à acção policial.

É óbvio que, imediatamente, nos dirão, com bonomia, que se é muito belo estabelecer, em tese, que só a Verdade merece respeito, quem poderá arrogar-se de possuir a Verdade? Quem poderá estar certo de que as suas ideias são verdadeiras? Simplesmente, se ninguém pode estar certo de que as suas ideias são verdadeiras, também não pode estar certo disso quem assevera tal incerteza. Se semelhante asserção não for senão uma muito incerta hipótese, com que direito a contrapor, como estritamente válida, aos que pensam de maneira oposta?

E se aceitarmos, como válido, que, efectivamente, ninguém pode estar certo de que as suas ideias são verdadeiras, então esse ponto de vista é verdadeiro e, se é verdadeiro, podemos estar certos de que há opiniões verdadeiras. Seria por causa da verdade de uma opinião — a de que não há opiniões verdadeiras — que nos quereriam forçar a aderir à opinião de que ninguém pode estar seguro da verdade das suas opiniões. O contra-senso é manifesto!

Abandonemos, assim, a zona pérfida e absurda dos relativismos, dos cepticismos e da descrença. A verdade é conhecida, tem de ser conhecida e isto é a primeira verdade. E pela verdade sejamos, sem hesitações e cobardias, inflexivelmente fanáticos e intolerantes.

A Revolução atraiçoada

Em 25 de Abril de 1974 — esse dia funesto entre os mais funestos da nossa história — foi enganada e atraiçoada a nação portuguesa, mas foi também atraiçoada a revolução a que os portugueses legitimamente vinham aspirando — a revolução nacional dos trabalhadores, a revolução que fosse efectivamente nacional e que fosse efectivamente dos trabalhadores, não, como veio a ser, a chocadeira de uma nova burguesia e o poleiro dos canoros internacionalistas de todas as plumagens.

Era indispensável que pelo menos alguns dos muito ricos — os que menos riqueza produzissem em real benefício da comunidade — fossem menos ricos, e era necessário que tivessem mais fácil e mais justo acesso aos bens essenciais os mais pobres. Mas àquilo a que os verdadeiros trabalhadores portugueses assistiram, revoltados, foi à partida, em massa, dos mais ricos para o estrangeiro com os seus capitais intactos, graças à cumplicidade criminosa dos «heróis» do 25 de Abril e dos sociais-fascistas do sr. dr. Cunhal. Assistiram à galopada louca de todo um povo para a miséria, enquanto em Portugal se instalava principescamente o usurário internacional por sobre as ruínas de um país que fora próspero — e no Brasil e noutras partes do globo para onde os portugueses de iniciativa haviam sido forçados a emigrar montavam eles novas indústrias, construíam novas fábricas, tornavam-se assim cada vez mais ricos, mas não em benefício de Portugal e sim de países que lhes abriam os braços e os acolhiam e até (como no caso de Champalimaud no Brasil) lhes facilitavam empréstimos e créditos.

Não tivemos, pois, a revolução nacional dos trabalhadores — uma doutrina de justiça social traduzida em dinamismo e em acção. Tivemos, sim, a revolução-palavra (a revolução bola de sabão) de que vagamente falavam, nas casernas e nas «mess», exaltados capitães e coronéis calculistas. Mas não é no rasto dessa revolução oca, dessa revolução-compromisso, dessa revolução-equívoco, meio social-capitalista e meio social-fascista, que nós vimos agora abrir caminho, nós, os nacionais-sindicalistas, rumo ao futuro, poucos ou muitos, por entre a confusa multidão dos iludidos, dos desesperados e dos tolos.

Não somos comunistas disfarçados, nem fascistas da vigésima-quinta hora, nem reaccionários ainda mal acordados para as duras realidades do nosso tempo, nem democratas «civilizados» e passivos sabendo na ponta da língua o manual de como viver e conviver na alta sociedade, nem conservadores imbecis e ceguinhos, carne de canhão para todas as intrigas suspeitas e para todas as conjuras malogradas à nascença; somos, simplesmente, portugueses lúcidos e conscientes, que não querem assistir de braços cruzados à morte de Portugal; que não querem assistir inactivos, ao funeral, na indigência e na vergonha, de uma pátria que foi grande, que foi gloriosa, que foi temida e forte — e que era sobretudo, a nossa.

Portugal: da Revolução Álibi `Revolução Necessária

"Je serais avec celui qui foutra en l'air ce régime" (Drieu la Rochelle)

Houve em tempo uma ideia, sedutora e terrível, que fez época na vida portuguesa. Ela concentrava todas as frustrações, todas as ilusões, todos os desesperos e todas as esperanças. Era a "Revolução".

Ela unia em si muitas e desvairadas gentes. Havia os jovens filho-família de aspecto linfático que tremiam de medo e pacifismo à simples lembrança de irem um dia defender um Império que o seu povo herdava; havia uma turba de cabeludos que proclamavam "make love not war" ao som de Bob Dylan e ao cheiro de marijuana; havia os tecnocratas bem vestidos que sonhavam com as maravilhas de um universo à sua medida, cheio de passaportes para a Europa, abundante em eleições, partidos e parlamentos, rico em grandes empresas e conselhos de administração; havia os intelectuais bem-pensantes, bestialmente progressistas, "pá", e cheios de obras-primas nas gavetas de que a censura tinha a chave; havia também uma juventude entediada por uma rotina em que não sentia ter um lugar, num pequeno mundo em que não descobria um sentido; houve finalmente alguns militares que descobriram que a sua missão não era defender a Terra Pátria da cobiça do inimigo, mas sim entregar-lha; estes, a "tiritar de coragem", passaram aos actos os desejos dos outros todos, e descobriram o jogo. Viu-se então o que já se podia adivinhar antes.

Ao contrário do que todos eles tinham passado anos a apregoar, não traziam a Revolução-panaceia: não era a solução para todos os males, não eram a paz nem a justiça, o que chegava. Tragicamente, foi muito o contrário. Era afinal uma "Revolução" álibi, que cada um usava como cortina a esconder ambições e desejos inconfessáveis, pequenos e mesquinhos interesses, ocultas pelas grandes e belas palavras.

E pronto, "consumatum est". Assim chegamos onde estamos. Atirados para um canto da História, aos lusíadas que fomos parece agora não restar outro destino senão assistir às periódicas mudanças de gerência a que se dedica o Regime que usurpou a Cidade e traiu as gentes. Despojados da grandeza ainda há pouco realidade, parece não podermos senão resignarmo-nos a que tudo o que no Universo vive e mexe se passa longe de nós, sem nós; porque um povo que se demitiu da sua História, aporrinhando-se num pequeno e velho rectângulo à ilharga da Europa, após trespassar a troco de coisa nenhuma o que em si havia de inestimável e único, a sua dimensão universal, não pode aspirar dizer seja o que for aos grandes centros que repartem o mundo. Assim tristonhos e esquecidos, pareceria que nos deveríamos acostumar à ideia de, democraticamente é claro, irmos aos poucos morrendo em vida. "Nem rei nem lei/nem paz, nem guerra,/definem o fulgor baço da terra/que é Portugal a entristecer...".

Mas qual o lugar que querem que eu ocupe nisto tudo? Eu – e comigo todos os que também têm 20 anos – que não têm por hábito a resignação ou o colaboracionismo, que não tiveram culpa nem aceitam ficar com a factura, nós também temos que figurar na trágica farsa que aqui levaram à cena? Devemos ir, cortadamente mendigar votos de chapéu na mão, ou correr humilde e esforçadamente, atrás de uns lugarzinhos no Parlamento? Por mais mil vezes que as vozes sensatas me aconselhem sim, – eu lhes gritarei: não e não!

Antes direi que há uma ideia a abrir um caminho, uma esperança que é preciso restaurar. Chama-se Revolução, mas uma revolução justa, verdadeira, e há-de ser nacional e popular, patriótica e social. É preciso que ela de novo incendeie os corações, mobilize os esforços, congregue os sonhos e os desejos das almas despertas. Há-de ter o sabor e a força da juventude, a alegria e a verdade do povo em luta. Não me perguntem comos, porquês, quandos e ondes: sei apenas que ela é necessária porque é indispensável. Esgotados os homens, cansadas as almas, porque não acender uma esperança? Antes que seja tarde…

Já ouço gritarem-me: "mitómano!", mas logo responde por mim o Fernando Pessoa: "o mito é o nada que é tudo"… "Sem a loucura/que é o homem/mais que a besta sadia/cadáver adiado que procria?" Calma, gente de moderação e juízo, que ainda hei-de estar vivo quando vocês todos forem lixo! Eu só queria levar a cada um um pouquinho de loucura…

Os Paradoxos da Democracia

Três paradoxos fundamentais, além de alguns outros de menor importância, viciam o chamado ideal democrático.

O primeiro é o seguinte: a democracia exalta, duma forma especial, a liberdade. À liberdade são dirigidos os mais frenéticos ditirambos e manifestados sentimentos de uma devoção extraordinária. Houve até quem aludisse (Croce) à religião da liberdade como algo em extremo meritório e de aplaudir.

Ora bem! Se a liberdade é um valor, que a ninguém é lícito negar, então a liberdade surge como um imperativo que não suporta contestações. E é isso admissível? A liberdade, nesta altura, constitui qualquer coisa que se sobrepõe às vontades dos homens. Simplesmente, que cada homem faça o que quer não é o que define a liberdade?

Quer dizer: a liberdade, tomada qual norma obrigatória, nega afinal o que é a sua essência.

Admitamos, agora, que a liberdade não é obrigatória, não pretende que todos a respeitem. Eis, então, que é lícito destruir a liberdade. Esta, para não se transformar em regra coercitiva (recordamos o lema não há liberdade contra a liberdade, lema que é flagrante contradição nos próprios termos), passa a dar por legítimo o seu aniquilamento. E eis que também se nega a si própria, porque aceita, qual direito, o combate (acaso vitorioso) contra a liberdade.

Por conseguinte, em qualquer das duas hipóteses (e não há outras) que formulamos, a liberdade auto-aniquila-se. Ela é, portanto, encarada como valor, um erro.

O segundo paradoxo democrático reside no chamado respeito pela eminente dignidade da pessoa humana. Esta é considerada um fim em si, que ninguém tem o direito de desrespeitar. Mas quem é capaz de desrespeitar a pessoa humana? Obviamente, as pessoas humanas e só elas. Os animais ferozes podem ferir de morte a pessoa humana, a natureza pode esmagá-la, mas desrespeitar implica uma tomada de posição ética, que, unicamente, é possível seja assumida por pessoas humanas.

Quem não vê, contudo, que chegamos a um nítido paralogismo? Faz-se da pessoa um objecto de respeito, quando a pessoa é o único ente que desrespeita tal objecto.

Claro que talvez se invoque a tese de que é obrigatório, para as pessoas, o respeito da pessoa. Em tal conjuntura passa-se algo de análogo ao que se passa com a liberdade. O respeito da pessoa, sendo um imperativo irrecusável, para subsistir leva ao desrespeito pelas pessoas pois que as força a aceitar o que elas porventura querem repelir (exactamente o respeito pela pessoa). Donde se segue, que numa ou noutra eventualidade, a tese do respeito conduz à sua própria eliminação.

O terceiro paradoxo da democracia está no governo do povo pelo povo. Conexiona-se ele, patentemente, com a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Sustenta-se que quem se não governar a si não é livre, não sendo respeitada a sua dignidade pessoal.

Segue-se, daí, que a liberdade e a dignidade da pessoa exigem o auto-governo dos homens, logo, colectivamente, o governo do povo pelo povo. Acontece, todavia, que o governo do povo pelo povo é concepção insustentável.

Se o povo governa não há governados. E se não há governados, de que modo falar em governo?

Objectar-se-á, porventura, que em democracia, não é o povo quem directamente governa, mas os seus representantes. Admitamo-lo. Esses representantes devem ser quem melhor expressa a vontade do povo e para isso, diz-se, é que são por ele escolhidos.

Só que para o povo escolher os melhores precisa de ter mais competência do que aqueles que escolhe (o maior jamais deriva do menor). E nessa altura os escolhidos nunca serão os melhores, ao invés do que se pretende.

E se se sustentar que ao povo não interessa escolher os melhores? Nessa altura, é ele sempre mal representado.

Num ou noutro, pelo mecanismo da eleição, a vontade popular não conseguirá ser adequadamente manifestada. E resta então voltar ao governo directo do povo, que é, insustentável.

De tudo quanto dissemos, uma conclusão se extrai. O chamado ideal democrático é o mais aberto e declarado absurdo.

A Orientação Teórica

À MARGEM DAS IDEOLOGIAS… A REVOLUÇÃO É OUTRA COISA

Vivemos numa época em que o homem é cada vez menos artífice da sua própria vida. O homem de hoje é vítima de um sistema que se alimenta da ideologia para sufocar e destruir os impulsos criativos que são a expressão natural do indivíduo. O efeito de tal anulação é a sua inserção em esquemas que o privam de identidade e limitam a sua especificidade ao plano material.

Neste quadro, passar de uma ideologia inspiradora para outra, não é fazer a Revolução. A Revolução acontece quando existem homens que têm em si mesmos o centro da actividade e do perigo, que vivem constantemente com ideias perspicazes e vivificantes, que os distinguem como indivíduos conscientes e capazes, enfim, como Homens. A Revolução é sobretudo, educação e formação desta realidade e do nosso Povo, sem rotações estratégicas, sem cumplicidades ou jogos de interesses.

Mas é também a via do sacrifício e da participação voluntariosa e consciente em todos os processos de resposta social e política. É definitivamente, acção sem tréguas dirigida aos flancos e à cabeça de um sistema que não aceita as nossas divergências… E a formação de uma vanguarda, de uma elite revolucionária que assuma o seu rol natural como guia do Povo.

A recusa da massificação e da delegação conduzirá, desde que complementada com a estratégia revolucionária, a um novo ordenamento civil que contará com a participação dos cidadãos nas diversas tarefas da vida pública e nas suas próprias funções. A profundidade de uma contínua linha revolucionária será garantida por uma completa educação, repartida pelo Estado e pela Família, mas uma Família bem diferente dos actuais núcleos biológicos.

O desejo de afirmação e a consciência respectiva, aliados a um completo domínio e capacidade para se retratar sem clemência permitirá, àqueles que melhor conheçam as suas limitações, serem o modelo e o exemplo para todos os demais, que pouco a pouco se irão fortalecendo numa ideia de disciplina Solidarista.

A nossa Revolução será feita por homens que não esperam que outros os tirem da mediocridade que afunda a nossa Pátria; por combatentes unidos em grupos de intervenção que construirão a nova sociedade, da qual as ideologias dominantes e os interesses partidários serão definitivamente postos de lado.

LUTA PELO RENASCIMENTO DO POVO

O nosso discurso revolucionário dirigido à liberdade do homem significa, transportando o conceito do plano individual ao social, a autodeterminação do Povo, opondo-se verdadeiramente a todos os que vegetam na resignação e dirige-se aos que querem lutar pela criação de um Novo Homem, de uma Nova Ordem. Para além da retórica própria da propaganda, nós nacionalistas revolucionários, colocamo-nos ao lado de todos os que derrubaram o falso mito da resignação e organizam a sua vida por entre as ruínas do sistema burguês, de molde a permitir a edificação de uma nova época.

Em vez da crise de identidade patrocinada pelo Regime, o Nacionalismo propõe o retorno ao homem e à recuperação da nossa tradicional, mas nova Cultura e das raízes que unem as nossas gentes com o passado já distante e com o futuro que se avizinha.

Os alvos a abater são: os partidos, já que não representam o povo mas sim meros grupos de interesse; os sindicatos, que utilizam os trabalhadores para as suas manobras dentro do próprio sistema burguês e materialista; o capitalismo, que vê o homem como um objecto e a comunidade como um conjunto de produtos supérfluos e nocivos; as multinacionais, a banca e o poder do dinheiro que condicionam a vida política do Povo a uma simples obtenção de maiores benefícios; enfim, todo o sistema político, económico e social vigente.

O primeiro objectivo a conseguir enquanto se assiste à desintegração do sistema, depois de se assumir em pleno o destino comum e reconquistar a ordem existencial e institucional, será a unificação e libertação do Povo da vontade dos grupos de pressão que perseguem interesses estranhos à comunidade.

Afirmamos que o nosso conceito de Povo não é outro senão a transposição ao plano social do homem livre. Ao contrário das massas populares que não têm vontade nem capacidade própria, o Povo é personalidade, organicidade, colaboração e criatividade, unidade e hierarquia. É tradição e destinos comuns. Povo é tudo aquilo que se produz e cultiva segundo uma visão comunitária da vida. Povo, são todos aqueles que assumem o papel combativo em torno do movimento revolucionário. Movimento que é o veículo para a unidade e a liberdade, para a afirmação da civilização, da independência, da dignidade, da Tradição e da vida do nosso Povo. É por isso que o movimento revolucionário não pode renegar a sua fidelidade aos laços que o ligam com a civilização do passado, com o homem audaz e combativo, com a experiência das acções revolucionárias de todas as épocas e que, no âmbito de uma estratégia global devidamente planificada, exalta a colaboração entre os povos em luta pela sua liberdade, independência e a defesa da sua própria cultura e tradições.

O Movimento de Acção Nacional recolhe a bandeira da Terceira Posição e afirma-se no campo internacional contra o imperialismo dos Estados Unidos e da União Soviética, contra o mercantilismo e o sionismo.

CINCO PONTOS PARA LUTAR E VIVER

Tradição, Solidarismo, Anti-Imperialismo e Militância.

Por Tradição entendemos a reconquista da identidade e a verdadeira concepção de raiz europeia, através da qual se criará uma efectiva unidade orgânica, popular, e revolucionária, que elimine os actuais aspectos contraditórios da vida humana, sejam eles jurídicos, sociais ou relativos à relação do homem consigo mesmo.

Por Solidarismo entendemos a sobreposição do interesse comunitário sobre o puramente individual. A sujeição de toda a vida pública a este princípio leva-nos a contemplar a responsabilidade e limitação da propriedade como eixo da nossa concepção económica. É por isso imprescindível readquirir o espírito subversivo do verdadeiro Solidarismo, à margem dos esquemas democráticos e parlamentares.

Por Independência Nacional entendemos a autonomia total nas decisões internas, a negação da política de blocos e a recusa de participar em qualquer tipo de organizações mundialistas, sejam elas de carácter económico, político ou militar. É clara a nossa oposição à ocupação militar de Portugal por parte da NATO e do modelo de sociedade alienante e de consumo na qual nos obrigam a viver.

Por Anti-Imperialismo entendemos o apoio solidário aos movimentos nacionalistas e aos povos em luta contra as agressões militares das superpotências. Mas é também, a luta contra todas as pressões políticas e económicas patrocinadas pelos grandes grupos económicas e interesses mundialistas que procuram dessa maneira assegurar o controle do mundo. Apoiamos neste sentido, os movimentos independentistas e regionalistas que se batem pela preservação de uma identidade nacional e cultural própria.

Por Militância entendemos a adesão ao princípio que deve inspirar a nossa vida quotidiana: - permanecer livres face às condições de proletariado ou burguesas que o sistema impõe. A militância recomenda-se uma função essencial, a de representar o motor da Revolução Nacional.

VANGUARDA E POVO

A missão da vanguarda é preparar-se para uma vez chegado o momento, enfrentar o aparato do poder e fazer com que o Povo construa o seu próprio Estado.

Para permitir ao Movimento conquistar o seu espaço e substituir-se ao sistema, a vanguarda deverá organizar-se segundo as exigências da realidade revolucionária, tendo sempre como referência o facto de que a mobilização só é possível através da participação activa nas questões sociais, nomeadamente a família, a educação, o trabalho e as condições de vida, uma vez que estão sempre presentes na vida dos cidadãos. O Nacionalismo sustenta a necessidade de comprometer na luta o maior número possível de camadas da população, criando com esse objectivo, dentro das escolas e universidades, dos bairros, das fábricas e no campo, as estruturas oportunas para que o nosso discurso de oposição e alternativo se transforme em afirmação integral. Neste contexto, a vanguarda deverá demonstrar o seu valor e capacidade criando as suas verdadeiras "pequenas comunidades".

O movimento actuará através da organização de núcleos estudantis e sindicais, associações de bairro e grupos de acção, que representam o embrião alternativo de que partimos para a edificação do Estado Orgânico. Na exactidão de tais conceitos residirá a força das atitudes de resposta organizada ou seja, o fermento da realização do programa revolucionário.

Cabe aos militantes conseguir a identificação do Povo com a luta e a sua vanguarda. Mas estes têm também a obrigação de participar em todos os confrontos possíveis ao lado das populações desorganizadas, nos protestos que frequentemente efectuam para, com informação, educação e organização, fazê-las adquirir personalidade e consciência Nacionalista. O êxito de tal acção dependerá do saber transformar as "desordens populares" e as "contestações desorganizadas" em algo mais que uma mera oposição circunstancial. Todos os elementos de rebelião e de protesto deverão transformar-se e adquirir a forma de "movimento".

A formação do Povo consegue-se com a educação política e a educação na luta. Numa primeira fase, a população mobiliza-se em torno de problemas sociais, mas é depois, durante o confronto político que, através da vanguarda adquire consciência e mentalidade revolucionária, transformando-se em Povo. A vanguarda emerge do Povo e da luta: ou é o exemplo, ou não é vanguarda.

ESPÍRITO, HIERARQUIA E ESTADO ORGÂNICO

Denunciando as velhas ideologias e o intelectualismo por elas legado, o Nacionalismo renuncia aos dogmas do passado para ter em conta a realidade que não permite um afastamento do Povo, protagonista da Revolução. Mas se bem que isto seja, ao mesmo tempo, exemplo e finalidade, a sua obtenção só poderá conseguir-se através do aumento da tensão revolucionária e da definição de novos conceitos e valores que serão posteriormente seguidos de uma acção educativa entre as massas.

Trata-se de um empenho que, para não permitir o fracasso da agitação, deve assumir o carácter da disciplina. É a acção do movimento que obriga ao aparecimento da hierarquia natural, que colabora e se estrutura através de um aparato mais qualificado, designado por organização.

O espírito que anima a vanguarda revolucionária deve ser disciplinado e assumir uma ordem rigorosa. Há que delinear e forjar uma disciplina. No entanto, as bases podem assumir a iniciativa em diversos aspectos, sempre e quando não existam ordens precisas emitidas previamente. Quando se está numa organização seguem-se as ordens e os responsáveis que as elaboram.

É ponto assente que para o nosso movimento a hierarquia é natural porque nasce do insubstituível valor da qualidade e porque se manifesta em todos os momentos da vida. Disciplina é reconhecer a superior capacidade, preparação e experiência de quem manda e por isso, não é mais do que autodisciplina.

Apenas se chega ao Estado Orgânico através do cumprimento da estratégia revolucionária que representa a transformação do Movimento e se fundamenta nos princípios de soberania, autoridade e legitimidade. Será a manifestação concreta de um poder natural.

Impõe-se para terminar uma consideração que, mesmo óbvia, vale a pena recordar: a Revolução procura "dar a volta" aos actuais moldes políticos e à dinâmica do poder estabelecido, mediante a constituição de um próprio modelo de Estado.

O ESQUEMA NACIONALISTA DE ACÇÃO

Queremos afirmar uma nova forma de activismo, um novo modo de fazer política. Baseá-lo na presença contínua nas ruas, cenário político que teremos de conquistar e manter sempre sob nosso controle.

O contacto efectivo com o país real, a política verdadeira e a militância a tempo inteiro são os elementos fundamentais deste novo tipo de acção a que damos o nome de contrapoder.

O nosso movimento, ainda que cresça de facto desordenadamente, é e será de elite, de vanguarda. Mesmo enquadrando próprias e verdadeiras massas, a sua condução está entregue a um grupo de militantes, devidamente preparados para o efeito.

Não existe qualquer dúvida de que as massas permanecem inertes e dominadas pela cómoda prática eleitoral de depositar o voto para terem a sua consciência tranquila. Para obstar a este problema, mobilizaremos a juventude e todos os que manifestam a sua postura anti-sistema através de campanhas de esclarecimento e informação, assembleias, debates e concentrações. Para contrariar o monopólio dos meios de comunicação por parte das forças do sistema é preciso fazer sentir diariamente a força das nossas ideias, explicando as nossas teses em folhetos, dialogando com as populações nas ruas e nos mercados, enchendo as paredes de pinturas e promovendo campanhas de propaganda específicas e regulares nas escolas e universidades, nos postos de trabalho e nos bairros.

O obstáculo mais difícil de transpor é a "conspiração do silêncio", o manto obscuro debaixo do qual o poder estabelecido sufoca os que o combatem, negando-lhes a existência, deformando as suas mensagens, impondo uma particular censura. A esta conspiração, responderemos com acções e debates nas ruas, os nossos militantes falando a viva voz com as populações e esperando o encontro directo com as forças do sistema e os seus valores.

Nesta situação, a vanguarda militante do país real, encontrará em campo aberto, nas ruas, o "país legal". No choque frontal, particular, a nossa vitória estará assegurada já que, sobre o terreno as forças estão equilibradas e sobretudo, porque com a demonstração pública já se consegue atingir o objectivo desejado que é fazer-se notar, fazer com que as pessoas se questionem e se interessem.

Esta é a constelação onde a tarefa de edificar um movimento popular, permanente e estável, decidido e alternativo face à organização estatal burguesa, não tolera qualquer atitude negligente e despreocupada para com a acção política.

Começa a marcha!